sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A tal da crise.

Para ler ouvindo: 'Who we want to be' - Tom Day

Eu nunca achei que ela me atingiria. Para falar a verdade, não sei afirmar se essa é mesmo a tal da 'crise dos 20 e poucos anos' que tanto falam por aí, mas eu resolvi aceitar e parar para ouvir o que ela tem para dizer, porém, tudo o que tenho ouvido não é lá muito feliz. Em resumo, o que mais grita em todos os auto-diálogos que tenho sintetizado em minha cabeça na hora mais alta da noite é: "tudo importa, mas nada é importante".
Ao falar assim, não é tão impactante quanto se você analisar isso mais a fundo e é o que eu tenho feito desde que essa crise se instalou nos meus mais decorrentes pensamentos.

Vamos aos fatos:

1. Chega um momento em que você nota que o consumo de informações, coisas materiais e até mesmo de pessoas tem de cessar.

A primeira onda de desinteresse partiu das informações compartilhadas desenfreadamente na internet e redes sociais. "Nada é mais importante". Convites, presentes, fatos. Tudo HÁ de ser compartilhado com todo mundo. Cara, isso cansa. Não é possível que de tudo o que as pessoas ganham, dão, façam ou estejam, exista a necessidade de compartilhar e mostrar à todos. Isso cansa! Para mim, as coisas deixaram de ser novidades e simplesmente acontecimentos na vida das pessoas e deu no saco. Não aguento mais saber se fulano ganhou ou fez algo. Claro que existem os casos isolados, como o de amigos, os mais próximos, mas de resto, nada mais importa.

A segunda onda de desinteresse foi em artigos materiais. Já parou e se perguntou por que você precisa daquele celular novo e megalomaníaco que vai te proporcionar somente um milésimo de felicidade, que você terá que ter o maior cuidado ao andar com ele na rua e quando chegar em devido lugar, todos estarão absortos em seus aparelhos exatamente iguais ao seu? Obs.: isso não se limita somente ao mero telefone móvel. Nenhum item a mais do que me é necessário, me importa.

Já em relação à terceira onda de desinteresse são as pessoas. Essa ainda me coloca em cheque e me faz questionar se eu estou extremamente intolerante ou se as pessoas estão cada vez mais rasas. Elas não escutam, não interagem, ou se o fazem, o fazem por que 'manda o protocolo'. Ou então, o fazem por que querem alimentar algo online que exista entre você e ela. E acabou ali. Obs.: Isso não se resume em pessoas mais próximas de você, mas principalmente naquelas que você acabara de conhecer. As pessoas estão se tornando desinteressantes, pois a maioria se limita em saber do outros somente o que é visível na telinha plana. Repare.

2. Tudo, absolutamente tudo está mais superficial que o normal, se é que existe um nível de aceitação para 'superficial'.

Ou fazemos algo para agradar alguém, simplesmente pelo fato de agradar. E não há nada mais além disso. E vice-versa. Estamos vivenciando uma era onde as pessoas não vivem, mas sobrevivem às margens das opiniões alheais e reagem como cardumes, fazendo aquilo que mais convém ao maior número de pessoas o possível. E quando você vai de encontro a esse fato, é dado como louco. Repare nas ruas, nas escolas, nas faculdades. Estamos perdendo o sentido de singularidade. Para mim, nunca houve uma segmentação tão palpável daqueles que nos rodeiam. É como se eu pudesse simplesmente etiquetar cada pessoa e listá-las em grupos e subgrupos. Devemos cumprir obrigações contra nossas vontades somente para um questão de mérito, mas não estamos felizes com isso.

3. O egoísmo e egocentrismo nunca foi tão tangível como agora.

Partindo do princípio que as pessoas não dão mais ouvidos umas às outras, e quando o fazem, há um pré-julgamento sem o menor embasamento, por que, infelizmente as pessoas estão habituadas a apontarem tudo aquilo que as difere, por que elas também foram apontadas quando decidiram fazer algo que não fosse de consentimento da maioria e então, desistiram e por fim, aceitaram fazer aquilo que mais cabia ao senso público e não à sua vontade e desejo. Estamos perdendo o senso crítico-avaliativo de tudo e em contrapartida, nunca fomos tão juízes uns dos outros. Isso tudo por resultado da super-exposição de nossas vidas.

4. Ainda existe em nós a necessidade de conversar, nos relacionar e trocar experiências com pessoas.

Você quer se encontrar com um amigo para simplesmente conversar, mas aquela pessoa está também absorta em afazeres que contemplem pessoas ou executando algo que as não deixe feliz e geralmente respondem com um "hoje não dá" e seguem o caminho de suas casas, deitam em suas camas e não te dão sequer a mínima atenção e você se encontra mais uma vez sozinho, sem ninguém para discutir a fragilidade das coisas e as tais necessidades citadas acima.
Mas, ao me lembrar de tudo isso e mais um pouco, somente uma palavra consegue definir o meu sentimento: preguiça. E então, não o faço e o que mais me apetece é dialogar comigo mesmo, num monólogo que leva praticamente toda a madrugada.

Enfim, esses são alguns dos temas que a crise vem me proporcionando e que abordo diariamente comigo mesmo e me pergunto: estou certo? E cada dia isso fica mais claro para mim e cada vez mais sinto a necessidade de me afastar de tudo e de todos. De simplesmente sumir desta dimensão, viver uma outra realidade, uma que fosse diferente, uma em que houvesse motivos para continuar a não ser o de 'agradar àqueles que nos rodeiam'. Já parou para pensar em que tudo o que você faz é em vão? Que tudo tem se tornado tão frágil que até você mesmo começa a não dar mais importância para as coisas como dava antes? E que nada que possa fazer a partir daqui te importa por que ninguém te dará a mesma importância que você costumeiramente dá, ou dava à tudo?

Sei que soa como falta de ambição e propósito, mas essa é a catarse da coisa.

Dentre esses fatos, existem outros mil a serem discutidos. Podemos sentar numa mesa de bar e abordar tudo isso, abertamente. Podemos mudar o mundo, será um prazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário