sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pés descalços

As chuvas torrenciais de dezembro assolavam a região onde morava. Após um cansativo dia de trabalho, haveria um encontro no bar local para confraternização dos seus colegas. Copos de chopp sobre a mesa, talheres, pratos, assuntos e conversas vazias. Com as pernas descansadas em uma cadeira, ele bebia como quem tinha sede, tentando esquecer o que passara há pouco, já que os problemas iam e vinham em sua cabeça, como um filme, que aparecia com o intuito de irritá-lo e lembrá-lo de quem ele era e qual era o seu passado.

No caminho de casa, os céus anunciavam que uma tempestade se aproximava. Relampejos, trovoadas e luzes preenchiam o vasto céu que se estendia sobre sua cidade e uma enorme nuvem negra pairava sobre sua cabeça. As pessoas e os carros passavam rápido por ele, todos com pressa e com a expressão de preocupação em suas faces, todos olhando a todo momento para cima, torcendo para que a chuva não caísse naquele momento, em que estavam na rua desprotegidos. Sentia os primeiros pingos que caíam do céu. Lembrou-se que tinha duas sacolas nos bolsos e que tinha que proteger seus pertences da água que viria, os envolveu com o plástico e desejou que a chuva caísse. Um pensamento rápido veio à mente: "Meus sapatos são novos!". Sobrara uma sacola e essa era a oportunidade de cobrir tudo o que lhe restara.

Um trovão rasgou o céu, abrindo o que parecia ser uma fenda no céu, por onde toda a água descia rapidamente, molhando a cidade e todas as pessoas que ainda estavam na rua. Correria. Pessoas procurando abrigo, tentando não se molhar. Ele caminhava descalço, calmamente entre as ruas, enquanto a água lavava sua alma, levava seu cansaço e louvava sua presença. Cada gota caia suave em seu cabelo negro repuxado para trás e uma sensação de paz e tranquilidade tomava todo seu corpo. As gotas escorriam por seu rosto como lágrimas que caíam ao chorar, mas em seu rosto havia uma expressão contrastante, era alegre e havia um sorriso esticado.

A tempestade havia se esvaído de dentro dele.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

5 contra 1

Cinco mais um, seis.
Seis períodos, cinco indivíduos, quatro aprendizados, três para um lado, dois para outro e um sentimento: indiferença.
O tempo prova, afasta, une e desune. Ora nos sentimos só, ora nos sentimentos parte de alguém, ora queremos que tudo suma mas que também, respeitem o nosso espaço quando estão por perto.
Seis mais seis, doze. Mais um, treze. Data que julgavam especial, que seja! Para mim, quando estávamos juntos, independente da data, era especial, pois era único, raro e sincero.
Treze menos três, dez. Divido por cinco, dois. Menos dois, zero.
Senti frio, desrespeito e solidão. Digamos que experimentei, em um pedaço de pizza, até a depressão. Senti-me perdido por algumas semanas, não sabia para onde e quem correr, já que ali, era onde eu encontrava meu porto seguro. Fui contra meus próprios valores e dizeres, fiz por vocês o que nunca vi ninguém fazer por prazeres.
Zero não soma nem subtrai, logo o número que mais me interessa por este momento é o um. Aprendi a colocar-me em primeiro lugar e pensar mais em mim, sem desejar saber a opinião do outro.
O futuro? Esse ninguém sabe, mas como ouvi: "não tenho que correr atrás". Já foi a hora de me perguntar "como seria o meu futuro sem eles?" mas a pergunta mais correta a ser feita é: "como será o futuro deles sem mim?"

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Nós

Nós que foram dados, dados por nós. Um total de cinco nós foram dados nesta viagem. Cinco nós que suportavam toda a estruta que esta jangada possuía e que tinha o ímpeto de levar seus tripulantes a outra terra. Ao longo da viagem os nós foram ficando fracos, mas mesmo assim, um cobria aquilo que noutro faltava. A cada dia, com o sol cada vez mais quente e as noites cada vez mais agitadas, nós ficávamos mais fracos e já não tinham mais forças para surprir a necessidade que aparecia latente ao lado, foi neste momento que cada nó voltou a concentrar suas forças somente a si mesmo e com isso, a estrutura da jangada começou a ficar a abalada e os tripulantes podiam notar as aberturas ficando cada vez mais visíveis, vendo a água passar por baixo de seus pés, possivelmente vendo o fundo do oceano e o que os esperava caso aquela estrutura fosse desfeita. Não havia nada que eles pudessem fazer a respeito, a não ser esperar pelo seu fim. O fim de nós, dos nós e da jangada. Um total de cinco nós foram nesta dados viagem. E eu aqui, ainda pensando em nós.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Esboço do ok

Neste momento, as lágrimas descem pela fissura que foi aberta em sua máscara, rolando por todos os contornos da mesma, desde o caminho dos olhos, seguindo pelas marcas da expressão que esboçam um leve sorriso amarelo, como o sorriso de quem parece dizer "está tudo bem". Será que está mesmo? Só quem já viu a criatura afastada de sua proteção é quem sabe dizer. Neste momento, suas mãos tremulas, ora afagam seu rosto, que, mesmo encoberto pela máscara merece ser afagado, dando suporte e sustentação aos sentimentos que escorriam como seiva fresca pelas rachaduras semi abertas na madeira, na qual um sorriso simpático foi entalhado à mão pelo próprio usuário, com a finalidade de esconder seu ser e não mostrá-lo aos moradores da vila, ora procurando por seus artefatos de marcenaria. Seu corpo apático já estava fraco e não aguentaria mais todas aquelas rajadas de ventos vindos do oeste. "Será que está mesmo?" Ele se perguntava repetidamente ao entalhar uma nova face em um disco de madeira. As farpas pregando-lhe os dedos enquanto tentava deixar ambos os lados do rosto simétricos, o sangue que escorria dos mesmos sendo absorvido pelo carvalho que havia sido escolhido para habitar a cabeçorra que amedrontava. "Perfecta!", disse ao experimentar sua nova obra de arte que acabara de ser substituída. Saberia que ao sair nas ruas de St. WolrdOurf, as pessoas não o olhariam Elas olhariam e contemplariam sua máscara.

domingo, 26 de agosto de 2012

E se...

Morrer sozinho, quem diria
Eu estou fadado a fazer essa opção,
Que na verdade não é uma opção e
sim um código de conduta que decidi
seguir em episódios anteriores.

É à vocês e a mim mesmo que gasto e
ganho todo o meu tempo. E tempo é
o que há de sobra
e sei que agora não é a hora,
pois sei que as peças se encaixam algum dia.
Algum dia.

Morrer sozinho não é o meu objetivo,
pois não me sinto sozinho,
me sinto com vocês, sempre, família, amigos, irmãos.
E se caso não for para morrer sozinho, que o intruso
seja adicionado à nós como um de nós.

E se eu morrer sozinho, não o farei,
pois morrereis comigo e eu com vocês.