domingo, 14 de novembro de 2010

Apenas um olhar

"O monstro contemplou o rosto da beleza, o que impediu a sua mão de matar. E a partir desse dia foi como se estivesse morto."   


Ele avistou a fera ao virar o corredor à direita, com o seu corpo magro, um pouco mais alto do que o dele, cabelos dourados como o amanhecer que banha os campos de trigo e seus olhos verdes como esmeraldas  lapidadas à mão. Lançou-lhe um sorriso afetivo, como um convite para aproximar-se um pouco mais, ao mesmo instante que a fera deixava aquela fenda, direcionando um olhar furtivo e interessado ao corpo estático que estava parado alguns metros dela. Um olhar que ardia por dentro, que causava calor e palpitações inexplicáveis. Ele, que mantinha aquela imagem cravada em sua mente, puxou seu corpo para o corredor seguinte, num solavanco conseguiu colocar uma perna a frente da outra e caminhar até a galeria que agrupava os outros corredores por onde a fera havia entrado. Ali estava ela novamente, mexendo em alguns objetos nas paredes, com uma expressão de quem sabia que estava sendo observado, um olhar tímido e cabisbaixo que aos poucos ia sendo direcionado ao olhar do indivíduo que a contemplava com tanto louvor. Mais uma vez, aquele olhar caloroso, sustentado por uma ponte quase que indestrutível aconteceu, com as mãos suando e a garganta seca, a única coisa na qual ele pode pensar foi em sorrir novamente. A fera entrou por mais um corredor, dessa vez, acelerando o passo, como se estivesse fugindo daquele que a desejava. Perdendo a visão do corpo perfeito, ele correu por todos os corredores da caverna em busca de tão estonteante beleza, e ouvia os passos ficarem cada vez mais longe e silenciosos, e ao mesmo tempo, diminuindo os dele. Com seu ritmo cardíaco acelerado, ele podia ouvir seu coração pulsar dentro da caverna oca, sentado numa pedra ampla sentiu a sede vir com força total, e a imagem de tal fera misteriosa indo embora junto com a esperança de encontrá-la novamente e tê-la em suas mãos.

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